Nos teus olhos
vejo desfilar a tua vida,
o teu passado
em ferida
no teu coração amargurado
e desiludido
a sangrar por aquele malvado,
aquele bicho,
que no calor do teu leito
te jurou amor eterno
e depois do proveito
queimou a tua ingenuidade
como se fosse lixo
e lançou as cinzas da tua ilusão
no inferno frustração...
Nos teus olhos
sinto ecoar os gritos
das tuas paixões,
os surrurros
ora afáveis ora aflitos
e os cicios das explosões
que tantas vezes te fizeram enlouquecer
perder a noção do tempo
ou baralhar a razão e o sentimento...
Nos teus olhos
bailam as ilusões de menina
que corria desenvolta pela calçada
com a ingenuidade à solta
e, graciosa como uma fada,
indiferente a quem passava,
vendia alegria e graça
enquanto nas suas entranhas pueris
lavravra já a lava do desejo
que a tornava tão feliz...
Nos teus olhos
ecoam ainda os primeiros ais
e gemidos genitais
que fizeram de ti mulher
como as demais
que antes de ti haviam sofrido
esses vendavais...
Nos teus olhos
carregas a tristeza do mundo
por teres oferecido
o teu tesouro a um vagabundo
que o lançou nas ruas da amargura
lama de vil maneira
sem um pingo de ternura,
indiferente às mágoas de teu coração gemebundo...
Nos teus olhos
lampejam raios de esperança
que o desejo faz renascer agora
e te dizem de amar sem tardança
porque chegou a hora
de esquecer o passado,
a tristeza e a dor
pois a vida nunca espera
e é uma eterna Primavera
para quem acredita na força do sonho e do amor...
Lud MacMartinson / LMMP
Luxemburgo
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