When I need you - Celine Dion

Arranjuez Mon Amour - Nana Mouskouri

20.10.07

Vulcão adormecido

VULCÃO ADORMECIDO





Durante meses que te julguei fria e distante,
lá bem longe, a anos luz do meu mundo,
me julgando indigno de ti e muito diferente,
pensei afastar-me e quedar-me gemebundo !

Tantas vezes quis apagar-te da memória,
onde jazem os sonhos que tiveram medo
de se assumir e de ser realmente história
de um coração que te amava em segredo !

Um dia, o véu se rasgando, pude descobrir
como sofri e andei amargurado sem razão
Agora, que uma mulher sublime vi sorrir,
percebi que nela adormecido vive um vulcão !

Quanta sedução e quantos desejos contidos
por detrás da gélida e indómita serenidade,
e quantos sonhos e devaneios proibidos,
à espera de um beijo para serem realidade !

Agora, que no teu olhar ousei me perder,
vem me abraçar do jeito que quiseres
e jamais tenhas receio de fazer sofrer
quem te quer a mais feliz das mulheres !

Muito mais teria para te dizer e te revelar
mas prefiro guardar dentro do meu peito
tudo o que contigo pude experimentar
quando a tua lava em mim fez o seu leito


Lud MacMartinson - LMP
Luxemburgo, 2007



Um olhar vítreo inspirou-te a " sexualidade cósmica ", mas durante meses o meu temperamento de fogo não teve a coragem de perturbar a tua serenidade, porque de plácida, me pareceu gélida... Enganei-me, porque, por detrás dessa muralha invisível, se esconde um Vulcão adormecido... que um dia entrará em erupção e expulsará das suas entranhas a lava incandescente... do prazer.
Nesse dia, serás realmente Mulher !
Bem-aventurado Homem que pressentir a eminência de tal explosão !

18.10.07

Renaissance


RENAISSANCE


Je me sens renaître pour l’amour
car la folie est de retour
la passion m’a joué un sale tour:
j’adore quand il me fait la cour...

Ça fait longtemps que mon cœur
n’arrivait jamais à l’heure
et aimait se faire de la peur
pour sombrer dans le malheur...

Je voudrais aimer comme avant
et voler comme le cerf-volant
qui émerveille petit l’enfant
qui le retient par la main...

J’aimerais qu’il vienne à la maison
et, avec moi, il découvre la passion
qui nous fait perdre la raison
quand les cœurs battent à l’unisson...

Je rêve de lui voler une bise
et de devenir sa gourmandise
pour qu’il fasse des bêtises
et ose me prendre à sa guise...

Je veux en finir avec la souffrance
et déchirer mon allégeance,
J’en ai marre de cette patience
où se morfond ma renaissance...




Lud MacMartinson
LMP -Luxembourg



Inspirée par Hel-Ma

12.10.07

Saudade: o eterno retorno...



Saudade: o eterno retorno !


Afinal a vida não passa de uma saudade sempre igual e sem sentido, uma saudade eternamente certa, infinitivamente concreta, sinceramente indefinida, fatalmente saudade.

Saudade!
Saudade, o sentimento descontente que se perde em divagações penosas e plangentes, a longitude de um adeus que se ganha em cada abraço que não volta...

Saudade, a quimera degradante que se inventa em cada luar de Primavera, um penar ultrajante que se sente quando o amor se acaba...

Saudade!
Saudade, um fingimento incoêrente que se desenha em cada lágrima de dor, uma felicidade aparente que se esvai em cada espera sem revolta...
Saudade!
Saudade, uma legenda chocante que se vê em cada olhar perdido por amor, um pensamento irreverente que se conquista em cada beijo sem sabor...
Saudade, um grito lancinante que não se dá na hora do adeus...

Por favor, ajuda-me...
Oh, compreendi!
Lembraste-te do nosso adeus, não foi?
Cobre-me o olhar com a tua madeixa...
Isso, assim esconderei e abafarei melhor a minha queixa... para que o mar não a afogue e ma devolva com a maré, sempre que perder a minha fé...

Ah, como sinto saudade do último Verão!
Mas o teres que ir e dizer adeus, o teres que partir e me deixar só com os meus tormentos foi muito triste. Veio a saudade e ficou.

Depois, escrevi cartas de amor... artificiais, comprei sorrisos... artificiais, tentei novas aventuras... artificiais, percorri corpos sem fronteiras... mas de todas as maneiras banais, frigidamente cruciais, fatalmente artificiais, dei beijos mil, inventei o sol do brasil..., mas no fim fiquei muito triste, olhei para trás e chorei de solta porque encontrei a saudade à solta para me devorar o coração e me lançar no meu próprio fogo...
Sim, meu amor, sem ti tudo é artificial!
O aroma das flores, os dias, elas... tudo, tudo passou e só ficou uma réstia de esperança e esta saudade à espera do teu retorno...
E o Verão voltou!
Depois vieste tu para dissipar a mágoa que tinha na alma... Surgiste serena, divina e calma...

Eu sei que não mereço o teu perdão...
Por favor, deixa-me, larga-me, atira-me logo para as terras do além para que se faça justiça.
Mas... por onde anda a justiça, essa chama que se atiça, que não a vejo nos teus olhos? Porue não fazes justiça?

Larga-me, larga-me logo e esconde bem a compaixão que lacrimeja no teu olhar... Justiça! Só a justiça me pode acalmar e sufocar o eco dos meus ais, nada mais...
Tudo me angustia, me atormenta e, estranho, me acalanta!
O remorso devora-me o corpo até à raiz, mas, não sei porquê, sinto me feliz...

Por favor, deixa-me adormecer aqui e pensar em ti, depois, se quiseres, podes ir procurar também novos amores que não falhem, que não tropecem, não caiam e não araiçõem, que não magoem e não perdoem...
Vai!
Vai, vai logo!
Porque me agarras? Porque me beijas?
Vês? O egoísmo não me deixa chorar, agarrar e beijar também, porque a saudade se se infiltrou na retina dos teus olhos e no mais recôndito do meu coração em deserção...
Saudade!
Ó insana liberdade porque me devolves a saudade sempre que tenho medo de perder a minha outra metade...








LUD
MacMartinson
LMMP, Estoril 1974 ( 19 anos )

11.10.07

AmoRosas





AMO_ROSAS



Olá, hoje, enquanto viajava por este mundo virtual, alguém veio me avisar que estava um lindo dia de Sol para cortar as roseiras...

Apenas peguei na tesoura, lembrei-me das dezenas de rosas por quem me encantei, que vi crescer e com quem passei momentos maravilhosos a conversar, a cheirar e a acariciar as pétalas...

E, inevitavelmente, o paralelelismo surgiu cintilante no meu espírito: lembrei-me dos encontros e desencontros operados neste mundo cibernético...

Obviamente, recordei, ou melhor, o meu coração palpitou mais apressado por quem o ajudou a ir mais além, mesmo fazendo-o sofrer também..., porque até na dor, ele foi simplesmente amor...

Guardei para o fim as roseiras sobre as quais ainda viviam rosas, algumas descoloridas e outras com botões vem fechadinhos, como que a dizer-me que preferiam morrer com os seus segredos…

Falei-lhes, quase lhes pedi perdão por ter que lhes abreviar e cortar o fluxo vital...


E esta endofasia ( diálogo interior... ) jorrou do meu tear pensante e colou-se no derradeiro olhar que lançava às minhas rosas...

Sabeis que ides morrer
Porque continuais
a sorrir para mim,
que sou o vosso algoz,
queridas rosas perfumadas?


Não penses assim,
poeta tolinho
e enxuga lá os ais
que tentas esconder
por dentro, para te fazeres forte,
porque, por ti, nós fomos muito amadas
e vamos descansar
para melhor renascer
e continuar a ser
e a merecer o calor,
o carinho e a predilecção
do teu coração...,
mesmo depois da morte…

Obrigado, Rosas, minhas mui queridas e muito amadas, Rosas !!!

Luís


MULHERES AMOROSAS
_________________

Olá...

este ano o meu jardim tem um perfume especial, porque ele está habitado por mulheres encantadoras e amorosas...

Foi há 2 anos que, preso no turbilhão da paixão, descobri o encanto das rosas do meu jardim. Até aquela manhã, em que a olhar para elas decidi escrever as primeiras páginas de um romance que eu julgava testamento, que eu passei a fazer das rosinhas as confidentes das minhas ilusões sentimentais.

Agora, todos os dias, dedico um tempo para as visitar e lhes sorrir, antes de lhes falar, de as acariciar e de as " sentir " como quem cheira o perfume de uma mulher.

Este ano dei às minhas rosas o nome de todas as mulheres que, de um jeito ou de outro, admirei, desejei e amei na vida.

Confesso que nem sempre me recordo de todas, mas aquelas que comigo privam nos labirintos do mundo cibernético são frequentemente objecto dos meus monólogos inebriantes...

Bem hajam rosas do meu jardim e mulheres do mundo que do meu coração fizeram guarida para dar mais cor e perfumar à minha vida...

Beijos como vocês mais adoram.

Luís



UMA ROSA TAMBÉM CHORA


Uma rosa chora
de alegria
e exala o seu perfume
quando vê o amor sorrir,
mas também chora
de queixume
no dia
em que sente
que ele vai partir...

Uma rosa esmorece
crepita
de dor
e morre
de saudade
quando vê que vida
já não corre
e sente que o amor
se compadece
e não acredita
da felicidade

As rosas do meu jardim
sorriem para mim
quando me vêem chegar
e ouvem a minha voz
lhes falar com doçura
e sentem meu coração
exalar a ternura
que faz bailar
o coração

...

incompleto

Lud MacMartinson - LMMP
Luxemburgo

7.10.07

Perdas e danos do amor... ( esperando )





PERDAS E DANOS DO AMOR 
( ESPERANDO )



Nos teus olhos descortinei a esperança
que no teu coração mora em segredo
e mantém viva esta ingénua criança
que da paixão faz um doce brinquedo...

Sabes que um dia descobrirás o Amor
e sentirás o fogo abrasador da loucura
que, te sublimando desencanto e dor,
no teu peito suspira por tanta ternura...

Acreditas em ti, mas falta-te Liberdade
para obedecer à voz do teu coração
e ir pelo mundo à procura da Felicidade
que agora pensas que seja mera ilusão...

Quando te bater no peito a saudade,
saberás que até o Amor tem uma razão
e uma hora para despertar de verdade
na alma que, vivendo, morre na solidão

Nos labirintos da ilusão me fui perdendo,
no dia em que pensei enfim descobrir
aquele por quem, com outros me perdendo,
mesmo no meu desespero me fazia sorrir...

Por ele, eu prossigo a inglória caminhada
pelas veredas destes mundos desumanos,
porque sei que, para ser a mulher amada,
terei que lutar e assumir perdas e danos...


Lud MacMartinson
LMP - Luxemburgo

Lealdade... serracena

LEALDADE SERRACENA



Ai há quanto tempo ando procurando
quem o meu coração consiga abalar,
e, todas as barreiras me derrubando,
em mim a felicidade possa plantar

Sonho com uma vida apaziguante
para os desejos e as loucuras saciar
nos braços de um carinhoso amante
porque só assim o poderei amar

Só peço que seja puro e respeitador
para poder me possuir de verdade,
assim, por ele morrerei se preciso for

e definharei nos braços da saudade,
porque só entragarei o meu amor
a quem me jurar intrínseca lealdade

Lud MacMartison - LMP - Luxemburgo


(*) 

Este poema foi inspirado pela senhora dos lobos,uma transmontana serracena e selvagem, no dia em que, se calhar, chegou a ser a doce miragem de um poeta que cruzou ao longo da virtual viagem que o desejo desperta..
.
Nunca esqueças, lady, a nossa vida e a nossa felicidade ninguém a pode viver por nós...
e não adianta apostar em quem nunca será ninguém de verdade.

Hoje, 11-02-2020, recordo essa portuguesa emigrada na Suiça com muito carinho e uma certa saudade !

Era uma LADY ! Uma DAMA ! 

Vem me amar... súplica de uma mulher apaixonada...


VEM ME AMAR

súplica de uma mulher apaixonada
(*)


Vem, Amor, me dá a tua mão
e corre comigo pela rua
Vem pegar no meu coração
e ver como eu sou só tua...

Vem me beijar com devocão,
me lamber da cabeça aos pés,
Vem transar com aquele tesão
que me afoga nas tuas marés...

Vem me morder, me possuir
e satisfazer meus caprichos
Vem me curtir sem mentir
e soltar em mim teus bichos...

Vem me amar sem maneiras
e sem o menor complexo,
Vem atravessar as fronteiras
e faz meu corpo perder o nexo...

Vem pegar esta fêmea no cio
e afagar a dor da saudade
Vem te afogar no meu rio
e ser meu mar de felicidade...

Vem me possuir como quiser,
sem lugar nem hora marcada,
para que o amor possa fazer
de mim a Mulher mais amada...

Vem me pega e me desvenda
o corpo e a alma ressequida
Vem e me beija a doce fenda
por onde o amor se faz vida...

Vem...

Lud McMartinson - LMMP
Luxemburgo


(*)
Poema inspirado
num olhar
que a louca e cega paixão
não soube conquistar
e deixou à deriva...
como flor ressequida
que rola pelo chão...

6.10.07

Entre a essência e a aparência: bendita humanidade...


Entre a aparência e a essência: bendita, humanidade !!!


Olá,


muitas vezes nós encontramos pessoas maravilhosas - enquanto permanecem virtuais ou inacessíveis. Sem querer começamos a endeusá-las, a fazê-las perfeitas e imaginá-las em tudo sublimes, porque, de uma maneira ou de outra, com palavras ou de outro jeito qualquer, elas nos tocam profundamente e são, por um momento, um dia, um mês ou um ano, o motor do nosso sonho e, de tanto as admirarmos, a nossa razão de ser e de viver.

O encontro virtual pode suscitar paixões, criar ilusões e fomentar revoluções, como outro encontro qualquer, em tudo banal, mas sempe com uma razão de ser, porque nada acontece por acaso.
Aqui, os momentos acontecem e, porque intensos, também se esvaziam, gastam ou consomem muito rapidamente, quando não descobrimos a verdadeira importância do ser que nos encantou um dia e a magia pode virar maldição ou tornar-se um doce amargo de frustração ou decepção.

Isso acontece, sobretudo, quando ficamos pela aparência e não vamos ao fundo da essência e é sinal de que, afinal, procuramos algo ou somos, ainda, alguém superficial e, como tal, o que pensamos descobrir nos outros ou conquistar é ilusório e vão, fútil e inútil, como se tornam os nossos sentimentos e as nossas vidas, se teimarmos em viver num mundo " perfeito " para todas as ocasiões, mesmo quando, por ingenuidade, preferimos uma mentira que iluda a uma verdade que magoa ou nos faz duvidar do que somos e do que queremos.


É como se imaginássemos um mar sem tempestades, apenas com bonança. Não seria mar de água vivificadora, mas um lago de água pútrida, mortal. Já imaginaram o que seria a nossa vida, se em cada amanhecer, nada houvesse para fazer, porque tudo era perfeito? Onde estaria a nossa razão de ser ou, simplemente de viver e passar por aqui?


Eu prefiro, mil vezes e de longe, alguém real com as suas imperfeições, porque é sinal de que compreenderá as minhas, quando ficar em face delas. Só pode ajudar a levantar, quem já caiu; entende melhor o perdão, quem já o pediu, porque errou; compreende o desespero do silêncio, quem passou meses a gritar no deserto, porque nunca um " homem é tão grande como quando se ajoelha para dar a mão a uma criança ! "

Nunca esqueça, esta é a Terra dos mortais e dos imperfeitos e é por este vale de lágrimas que temos que passar todos os dias da nossa vida.

Por isso, páre, olhe o mundo ao seu redor, escute o coração e vá onde ele o levar, porque ele é a fonte do Amor, essa loucura que vale a pena ser vivida para dar uma razão à vida.

Eu pecador, me confesso e te advirto: se vens aqui procurar um deus, um ser sábio ou perfeito, estás no lugar em tudo errado - na condição e na educação - por isso te peço que não percas o teu tempo comigo e as minhas banalidades.

Um Beijo ou um abraço !

Até...

Luís












Lud MacMartinson - LMP - Luxemburgo

5.10.07

Quem sou? A minha autobiografia...







Mon Autobiographie

(*)

Lorsque, le 25 avril 1974, mon pays, le Portugal, retrouva la Liberté, je crus que, après le bac, la fac ne serait qu'une formalité pour moi. En rêvant, je me voyais l'avocat que j'ai toujours voulu être ! Hélas, le destin…, aidé par les marxistes, en a décidé autrement, fermant sine die les universités du pays.

Puis, las d'attendre, en janvier 1976, je me suis décidé à quitter mon village de Fiolhoso, dans le nord, et à traverser l' Europe pour rendre visite à mon père, émigré au Grand Duché de Luxembourg, car de l'argent pour la fac j'en aurais besoin, le jour où les portes de l'université me seraient ouvertes, mais je ne suis plus rentré chez moi .

Ici, pour survivre et nourrir mes rêves, j'ai été, successivement, garçon, ouvrier, employé privé, agent immobilier, enseignant et chômeur, avant de, pour sortir du chômage, m'établir à mon compte. Comme passe-temps j'ai eu le football, la photo, la vidéo et la radio, tout en cultivant en secret la grande passion de ma vie : l'écriture !

Après avoir participé à des concours de poésie, tout jeune lycéen, j'ai écrit mon premier mon premier roman à vingt-deux ans. Puis, les aléas de la vie m'ont fait oublier les muses, jusqu'au jour où, en m'achetant un ordinateur, j'ai voulu corriger les manuscrits que j'avais écris et enfouis au plus profond des tiroirs. Aveuglée par le néant, l'inspiration, que je croyais morte, ou partie à tout jamais, a quitté soudainement l'hibernation léthargique, où elle semblait plongée, et, tel un vulcain endormi, fit jaillir de mes neurones ce bouquin, écrit en dix-neuf jours. Chez moi, sagittaire idéaliste, la vie c'est comme çà : des défis et des rêves…, toujours sur la lame du rasoir…

Je dédie ce roman à mes enfants, à mon épouse, à mon ami Carlos Filipe du Timor Oriental, ainsi qu'à celles et à ceux que, par le monde, oeuvrent pour que les inégalités, la faim, les préjugés et la guerre soient bannis de la face de la Terre.

Luís Macedo Pereira



(*)*Escrita para a apresentação de " La Force du destin " , por ocasião do Salão do Livro, no Festival da Cultura e da Emigração, relaizado no Hall Victor Hugo, Luxemburgo, de 18 a 21 de Março de 2001, onde tive o privilégio de o oferecer a Suas Altezas Reais o Grão Duque Henri e a Grã Duquesa Maria Teresa de Luxembourg.



A minha autobiografia

( * )

Em 1976, cansado de esperar pela abertura da faculdade, que os marxistas haviam trancado a sete chaves dois anos antes, decidi vir ver como o meu pai, emigrante desde 1969, ganhava os francos com que me pagava os estudos, na Escola Salesiana do Estoril.

Vim por curiosidade, mas acabei por ficar. E já lá vão 25 anos!

Numa geração realizei muitos sonhos impossíveis, mas conheci também a dor amarga da Saudade e, de adiamento em conformismo, vi o meu sonho de criança esvair-se nas brumas da ilusão, antes de cair irremediavelmente nas masmorras da virtualidade.

Jurista nunca cheguei a ser, mas muito me honram as inúmeras causas que advoguei, sobretudo as que perdi para defender a minha íntima convicção, neste meu itinerário pelo Grão Ducado do Luxemburgo.

Aqui, fui, realmente, estudante, operário, fotógrafo, locutor de rádio, professor ou agente imobiliário, e, muito naturalmente, escritor..., porque isso comecei a sê-lo nos bancos da escola da minha terra natal, Fiolhoso, uma aldeia do concelho de Murça, onde nasci há 46 anos.

Este romance dedico-o aos meus filhos e à minha esposa, a musa que muito me inspira, ao Carlos Filipe, meu Nobel amigo de Timor Lorosae, e a todas as pessoas que, pelo mundo, fazem rimar quotidianamente a Felicidade com a Solidariedade e a Fraternidade.

LMMP - Luxemburgo - Lud MacMartinson

4.10.07

Brasil: o meu primeiro sonho!




























Confidência a uma Índia o meu primeiro sonho: BRASIL !





Oi Naiá, 


tudo começou muito cedo...



" Eu era menininho de bibe e pião, teria talvez cinco anos, quando pela primeira vez ouvi pronunciar a palavra Brasil.

Ainda me lembro como o meu coração pulou de alegria!



Naquele ápice, o Brasil não era nada de concreto para mim: nem uma imagem, nem um país, nem uma pessoa, nem um pássaro, nem uma nuvem, nem num cheiro, nem um pensamento: um sentimento apenas, nada mais! Talvez uma estranha, uma sensação, um sinal do destino!


Aos oito anos, quando a minha percepção do mundo e o meu conhecimento já eram maiores, soube que o Brasil, afinal, era um país que ficava lá longe, muito longe, para lá das montanhas e do mar;


um lugar onde meu avô paterno, que eu não conhecera, repousava para sempre!


O Brasil era a terra para onde meus tios, nascidos no Rio, queriam voltar em breve.


Meu tio era meu ídolo, mas o Brasil era magia, era alegria, era encanto, era uma oração, um desejo, um desígnio para mim! Não sabia explicar, mas era algo de muito estranho: uma tentação, um fascínio!


Pronto, posso dizer que aos oitos, um menino transmontano que não conhecia nem respirara ainda outro ar nem tampouco atravessara o oceano, sonhára com um lugar, o paraíso onde a sua alma se deitava todas as noites: o Brasil!
Nessa idade esse menino não conhecia a história, nem sabia nada do passado, mas soubera e atrevera-se a jurar diante de toda a gente que quando fosse grande iria ao Brasil.


Que coragem para um menino ousar afrontar, desafiar e contradizer o mundo dos adultos e dos impossíveis ! A minha vida tem sido assim : sonhos, desafios e paixões !
Ainda me recordo como se fosse hoje:

__ Tio, quando eu for grande irei ao Brasil! - disse sério, impávido, desafiando quem me ouvia!


" Ah! Ir ao Brasil!? Como é ingénuo e sonhador o Luisinho! Dizer que vai ao Brasil! Ah ! Isso não é para toda a gente, isso não é para um qualquer !
Para tal, teria que vender uma leira ( terra ) para pagar a passagem e fazer aquela longa viagem... " - devem ter pensados os adultos que me olhavam com ar de troça.


Coitados, eles até pensavam que sabiam e podiam tudo lá na aldeia, mas não conheciam nem desconfiavam da força do sonho.
Que tristeza passar pela vida como cão por vinha vindimada !


Estávamos em Março de 1963!
Entretanto, os tios cariocas e a avó do Luís - assim se chama(va) o menino, haviam regressado ao Rio; de vez em quando lá chegavam as cartas vindas do Brasil e a cada entoação do nome, era uma respiração suspensa, um desejo, uma fome imensa!
O Brasil !!! É longe? Tenho que ir ver, tenho que saber como é e onde fica o Brasil !!!
O Luís fizera a escola primária; saíra da aldeia e fora estudar para vários colégios!
Num deles descobrira uma biblioteca que era um quarto onde se deitavam e dormiam os livros...

Imagine qual foi a primeira curiosidade que quis satisfazer quando lhe disseram na enciclopédia estava tudo?
É óbvio: o Brasil!

Os anos passaram-se e o "seminarista" - condição exigida pela mãe para lhe pagar os estudos - continuava a sonhar com o Brasil.
Só que o sonho virara paixão, e a paixão obessão, quase demência, condição "sine qua non " da própria existência.

Entretanto, em 1973, 10 anos depois de " garantir a pés juntos que quando fosse grande iria ao Brasil " o seminarista batera com a porta na cara de quem o queria ver padre, bispo, sei lá, porque não Papa, tanta era " a santidade " daquele espírito introvertido, que aos 14 anos conseguia inventar rimas e pensamentos mais profundos que os próprios mestres!
Em 1974, preso e queimado no turbilhão da Revolução, o pré-universitário, - com quarto alugado em Coimbra onde a faculdade seria mera formalidade para quem queria ser advogado,- tomou uma decisão que mudaria radicalmente a sua vida e, sem saber o faria realizar o sonho de menino mais depressa:emigrar!
Aos que lhe ofereceram uma vida de sonho a defender o materialismo ateu, disse furiosamente não; aos que lhe garantiam cargos e honras disse simplesmente obrigado e aos que lhe pediram para esperar e ser " doutor" disse serenamente:

na vida nunca há esperas, mas vícios e desperdícios!
__ Prefiro partir, deixar de ser o " alguém " que todos dizem que serei aqui, mas escravo de um ideal nefasto que não partilho e sei falacioso !


Emigrarei, conhecerei a tristeza e a dor amarga da saudade e serei sempre um homem simples, mas livre ! Serei un Luís ninguém, se isso for preciso for e o destino mo impuser, mas realizarei este e todos sonhos que hei-de sonhar !
E o estudante, ex-professor, virou garçon! Foram 3 meses apenas, mas muito importantes para mim! Depois o garçon não se deixou enrolar pelo patrão, que o queria roubar, e partiu, sempre confiante de que algo melhor haveria de lhe acontecer!
Dias depois, uma semana, pela mão que um amigo – o Arménio – foi fazer um teste numa empresa ! Cinco minutos apenas e hei-lo com o futuro garantido na maior multinacional do país, o Luxemburgo, um anão com alma de gigante, que o colhera de braços abertos!


E o Brasil? Morrera? Desistira? Nem pensar!
O Brasil era uma paixão antiga !
Uma tarde de Dezembro de 1979, passeando na avendida da Liberdade, o Luís olhou a vitrina e deu com os olhos no Cristo Redentor de braços abertos.
Sorriu, apalpou o bolso e entrou na agência de viagens.
Uma hora depois, o Luís chegava a casa e, esboçando o maior sorriso da sua vida, dizia para o pai, que vivera até aos 18 anos no Rio, mas nunca mais lá voltara:
__ Estou muito feliz, pai! Hoje passei o maior cheque da minha vida! Vou ao Brasil !!!
O meu pai abraçou-me e chorou: eu tinha na mão o bilhete que ele nunca ousara comprar ! O filho perseverante estava prestes a cumprir a promessa e a realizar o sonho de menino.
Finalmente, eu acabara de fazer o que o meu pai sempre desejara, talvez mais por ilusão ! É, penso que ele sonhava por sonhar, sem muita ambição ! Eu não, quando sonho é com convicção, com alma e coração !

No dia 14 de Dezembro de 1979, vesti o meu melhor fato ( terno ), negro e pus a gravata: desde os 10 anos que me habituara a trajar assim! Pequei na gabardina e dirigi-me para o aeroporto, a 30 quilómetros : estava cheio de neve, 5 graus negativos!
Poucas horas depois aterrei no Rio de Janeiro. Como foi encantador ver o sol nascer de avião ! Como foi reconfortante abraçar a família e matar as saudades !
Porém não era disso o que o meu coração mais desejava e esperava, não era esse o Brasil que que sonhara durante mais de 15 anos, mais de 6 000 ( seis mil ) dias e noites!
Durante quase um mês, o menino, que ousara sonhar contra tudo e contra todos, descobrira os encantos da Cidade maravilhosa e do Brasil; apaixonara-se por lugares bonitos; fizera planos para comprar um terreno em Piratininga (

Niterói ) do outro lado da Baía da Guanabara; conhecera o rodízio e admirara o charme das garotas de Ipanema; mas nada disso lhe fizera ainda o seu o coração palpitar como quando ele ouvira ecoar pela primeira vez nos seus tímpanos a palavra Brasil !
Não o Brasil dele não era aquele, não seria só aquele, o Brasil dele, quando o encontrasse, o seu coração lho diria certamente!
Aliás, nem precisaria de palavras: o pressentimento seria mais forte e mais lesto, talvez um mensageiro divino a quem a aura bastaria para dizer tudo, mesmo que fosse mudo, ele escutaria o apelo, sentiria aquele pulsar que o fizera sonhar assim!
Bom as férias estavam quase terminadas, o encanto reconfirmado, o desejo de voltar imenso, e vontade de comprar o terreno firme, portanto impunha-se abrir uma conta bancária para enviar os dólares para o terreno e, quem sabe, a casa!
Na véspera do meu regresso, enquanto aguardava pacientemente numa das filas de uma agência da Caixa Económica Federal, meu tio, que não me largava com medo de ser assaltado, foi abordado por um conhecido que lhe perguntou:

__ Quem é este moço, Toninho!
__ O meu sobrinho, o filho do Alexandre!
__ Da minha prima Luisa?
__ Sim...
__ E quando chegou?
__ Volta amanhã!
__ O quê?! Você recebe a visita do sobrinho, de um primo, de um patrício, de um vizinho e não no-lo apresenta?! Estou a ver que veio da santa terrinha e não visitou nada!
__ Não, está tranquilo, Zé, que o Luís ficou tão encantado com o Brasil, visitou muita coisa, quer comprar um terreno em Piratininga: diz que é bonito !

Em poucos minutos o Zé, que afinal era primo da minha mãe e embarcara rapazote para o Rio de Janeiro, resolveu tudo: bastou empiscar ao gerente e pronto lá estava eu a passar por cima de uns quantos..., meio envergonhado e contra a minha vontade...
Depois, entrámos no carro dele e voltámos para casa do meu tio, onde a minha avó nos preparou um almoço.

__ Bom, Toninho, vai trabalhar ( para a agência do Banco Central, no Rio ) que eu me garanto a segurança do teu sobrinho! Agora ele fica por minha conta.À noite cá to trarei.
Passados 30 minutos e muitos ziguezagues que me fizeram enjoar e embalar o coração, estava num bairro da Zona Oeste do Rio!
Depois de me apresentar à família e de me mostrar a casa, o primo da minha mãe ( os pais eram irmãos )disse-me:

__ Você tem mais primos aqui, Luís! Vem, que eu vou mostrá-los para você.
Foi como se tivessem tocado num formigueiro ou acordado um vulcão!

Inexplicavelmente, meu coração começou a embalar e bater apressado, as mãos a humedecer e um certo nervosismo a apoderar-se de mim!
Naquele momento, senti-me como alguém que procurou a vida inteira por um tesouro e, de repente, quase já descrente, sente as emanações da sua presença!
Entrei no carro e mal tive tempo de respirar e de enxugar o suor do rosto: já estava diante de uns portões de uma vivenda com os azulejos da imagem de Nossa Senhora de Fátima no frontespício!

Aos berros do meu primo acorreram dois moleques lestos, descalços quase tão bronzeados como o Pélé, de tanto soltar Pipa!
Seguiram-se três moças intrigadas, os pais sorridentes e..., o meu olhar... sentiu o coração bater da mesma maneira... meu Deus!
" O Brasil !!! "

Um olhar profundo! Um corpo franzino! Cabelos longos, castanhos! Um sorriso tímido, envergonhado...

Descobriu, Naiá?
O meu Brasil, a minha razão de ser e de sonhar, chamava-se Lina e o meu coração já a conhecia há muitos anos!
Assim de repente, tive a impressão de ter conhecido noutra vida... Mas como me era familiar aquele rosto, aquele sorriso, aquele olhar!
Depois das apresentações, voltámos a casa do Zé para um cafezinho!
Instintivamente, fiquei a sós com a Lina no terraço... As irmãs da Lina, os pais, os outros não existiam mais, a minha timidez evaporara-se! Não sei se tinha que lhe falar ou a olhar apenas, em silêncio, admirá-la! Vê-la sorrir, desejar aquele tesouro...

Com medo de que o meu olhar não lhe exprimisse tudo o ques estava sentindo, ousei dizer:
__ Lina, acho que agora sei, porque ando a sonhar com Brasil desde pequenino !
__ Ah bom?!
__ Mas a certeza, a resposta, não sou eu quem a deve dar...
Lina corou! O meu olhar dizia tudo, implorava a resposta que ela não deu, que não podia dar ainda, porque não fora ela quem sonhara com o Brasil !
Cinco dias depois chegou ao Rio a tão desejada carta a pedir-lhe namoro ! Lina já estava à espera dela ! Alertada e aconselhada pela mãe, Lina só pode obedecer e dar a resposta que o seu coração lhe sussurrava : sim !
Passados 18 meses, já não havia dúvidas, mas muitas certezas, uma decisão a tomar e um juramento a fazer!

Depois de pedir a mão de Lina em casamento e ver meu pedido aceite(o), a mãe de Lina implorou, sorrindo:
__ Esperai um pouquinho!
Pouco depois, voltou com uma foto de 1967, tirada perto da paragem do autocarro, no longínquo lugar, a cerca de 20 vinte metros onde o menino tímido e introvertido sonhara com o Brasil:
" Uma mocinha franzina de 6 anos, mirava um moço vestido de terno e gravata negros que acabava de chegar do seminário: era eu! "


Acho que você já entendeu porque eu gosto tanto do Brasil! O Brasil é o sonho, é a paixão, é a razão que deu sentido à minha vida!

O Brasil é o Amor da minha Vida!!!!
Eu amo mais o Brasil que milhões de brasileiros porque eu o inventei, o sonhei, o desejei, o amamentei, o chorei e o guardei no coração sem nunca desfalecer, sem nunca duvidar!

Eu te amo, meu Brasil !
Sabe, Naiá, quando um menino sonha, Deus sorri, se inclina, o beija, obedece e o sonho logo parece!


Espero que tenha gostado deste longo mail! Me desculpe se a enfado!!!

Beijinhos


LUDwig, LMP, LUXEMBURGO - 2005 " Cantinho Sensual . Cantinho da Poesia "
NB: todo os anos volto ao Brasil e brevemente regressarei de vez ao paraíso
onde germinou, nasceu e cresceu o meu sonho!


Lud MacMartinson - 2006