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8.6.07

O(s) Milagres(s) (do ateu) Saramago !



O(S) MILAGRE(S) (DE) SARAMAGO, O ATEU!
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No 1º dia da Primavera, assisti a uma palestra sobre o controverso e dificílimo, na compreensão subentenda-se, José Saramago, escritor atípico, a quem, finalmente, o comité Nobel decidiu galardoar com a máxima distinção a que um homem de letras pode aspirar, premiando a essência da lusofonia.

Quatro leitores conseguiram, em poucas e simples palavras, mas com muita e profunda convicção, popularizar Saramago e as regras de pontuação, demonstrando que, afinal, nem sempre são precisos sinais para se chegar a uma conclusão, quando se consegue ler e escutar, simultaneamente, a própria voz, ou, ainda, se tem a paciência e se deixa às palavras o tempo de germinarem na cabeça e se enraizarem no coração, antes de saírem, quantas vezes tontas, pela boca. José Saramago, que, ao que parece, se orgulha de não ser crente (no Omnipotente), também chegará a conhecer um dia à Verdade Suprema, trilhando os caminhos, para tantos errados, da sua Fé ( no Homem), como chegou ao Nobel de Literatura renegando muitas vezes a ditadura do literalmente correcto.

É que um milionésimo de segundo basta para se perder ou se ganhar o direito de ter direito à VIDA terrena ou Eterna.

Eu, confesso, nunca gostei muito do escritor e nunca apreciei o político, o que me levou a, erradamente, ter preconceitos sobre o cidadão, mas agora, reconheço, só me resta acreditar no Homem, porque, talvez José Saramago não saiba nem acredite, a Cultura é um dos melhores alimentos da alma e eu prezo-me de ter uma que muito me pede e mais me reclama e, tão pobrezinho, quase nada lhe dou.

E dizer que um ateu fez algo em que nunca acreditou: um milagre! Não, milagres! Senão vejam:

Primeiro milagre: acham que ele, o Zé, rapaz simples e humilde, que nada escreveu até à idade em que outros já estavam consagrados por um Dr., ― verdadeiro ou falso, pouco importa ― acham pois que o Saramago, revolucionário a quem os seus camaradas quase nunca destacaram, algum dia sonhou com a honra que o Nobel lhe atribui? Pois é, não diz o Evangelho que os últimos serão os Primeiros? E estas palavras sagradas se cumpriram pura e simplesmente na pessoa de um filho da gente mais humilde de Azinhaga.

Terá o Zé pensado, ao escrever o Evangelho Segundo Jesus Cristo, o Crucificado, que por ele (entre outros) seria um dia Consagrado? Não sei, mas o que eu sei é que Deus escreve direito por linhas tortas e ao Saramago concedeu o dom de tal escrita. Mais,, também sei que lá nos confins do Universo, no meio de um Buraco Negro qualquer, há Deus que continua a brilhar desde sempre e para sempre mesmo para quem nele nunca chegar a acreditar.

Segundo milagre: Esse Deus, que nunca dorme e conhece o que foi, é e será, provou que o Ateu, (se é verdade o que dizem, o que eu duvido) ao acreditar no Homem está mais perto d’Ele, Suprema Verdade, e mais certo ao acreditar primeiro na metade ( o homem material ) do que o Crente que só quer ver o TODO OMNIPONTE, esquecendo-se que nada nem ninguém chega a grande sem ser e se fazer muito pequenino. Esse, ao ser assim arrogante, está a afastar-se de Deus, ao contrário do que possa pensar ou lhe possam dizer.

Terceiro milagre: este só a mim diz respeito e permitam-me que o guarde secreto por mais algum tempo. É que, muitas vezes, também se deve dar tempo ao tempo de ser, viver e sonhar.

E, esse, ainda é um sonho meu. E mais milagres de Saramago não vos conto por que estou com pressa e me falta o papel para falar do Nobel em quem nunca acreditei, até porque, os milagres de José, esse Ser mago, continuarão depois da sua morte, porque para mim e para o Deus em que acredito, o menino de Azinhaga não morrerá jamais. E isto, não é meu, isto já me diziam os meus pais!

Talvez seja uma blasfémia para muito boa gente se eu disser e escrever que há crentes praticantes que são praticamente ateus, apesar de dizerem acreditar em Deus. Isto porque, vivendo em permanente contradição, dizendo uma coisa e fazendo outra, fazem subir muitas vezes o Credo (em Deus ) à boca, para esconder o diabo que trazem no coração. E esse não é, seguramente, o melhor caminho para se merecer a salvação, pois não? É que aos outros nós até podemos mentir, mas nunca a Deus e a nós próprios, não é, consciência? Mas quem sou eu para dizer ou escrever isto e pensar muito mais, que não digo nem escrevo agora, por não querer dizer algo, que me parece certo, na hora errada.

Escandalizei alguém? Se lhe fiz mal, ainda bem pois há males que vêm por bem !

Ana, Carlos, Ermelinda e Esperança bem hajam por me terem permitido escrever estas reflexões sobre a CULTURA SEGUNDO JOSÉ, o Ser amargo, e, sobretudo, por terem depositado no meu coração a semente da Fé no Homem, de quem se falou naquela bendita tarde de 21 de Março, dia em que nasceu a Primavera, por sinal…

O Destino marcou a hora e ainda bem que não cheguei atrasado! É que, quem me conhece, sabe que eu sou muito impaciente, pois acredito que para os seres só a VIDA, esta e a outra, é o Presente por excelência e tudo o resto passado. Quanto ao Futuro, esse, não passa de uma ilusão, um sonho, que nunca chega a ser realidade, porque o Futuro é a Eternidade!

Parabéns, senhor José Saramago!

LMP - Luxemburgo, Março de 1999 - publicado no Jornal Contacto

LUD
MacMartinson

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